Introdução

Bem-vindo ao blog criado pelos alunos do 1º semestre do curso Design Gráfico da FMU Unidade Vila Mariana I, dedicado a pesquisa de campo da disciplina Estudos Sociais que foca no estudo do grupo Esparatrapo.


Palhaço em hospital não é novidade! Antes de nós, iniciativas já tinham acontecido. Crianças se beneficiaram, mas as visitas eram incertas. A sistematização é que surge conosco.
Em nossa caminhada, fomos alvo de muitos olhares: “Lindo, mas o que vocês fazem além disso? Faz parte do departamento de humanização? Minha família me acha engraçada, posso entrar no grupo? Trabalho em marketing, mas tenho umas horinhas livres no sábado, posso ser uma doutora da alegria?”
Relembramos, então, nosso princípio: vamos aos hospitais como a um teatro. Realizar nosso espetáculo por no mínimo quatro horas. Tudo vira palco. Para todos diversão, quebra no cotidiano.
Para nós, trabalho profissional que exige conhecimento, preparo artístico, fôlego, capacidade de jogo, sensibilidade. A graça abre espaço para a adversidade num outro plano. Um olhar para a criança sem comiseração, a interação mediante um olhar permissivo.
Mas às vezes uma situação nos arranca da interação artística: uma mão secreta, bem intencionada, coloca em nosso bolso uma gorjeta. Delicadamente agradecemos e explicamos que nosso trabalho já é remunerado, e que toda doação deve ser feita por
trâmites formais.
Mais uma vez somos surpreendidos: “Mas... vocês não são voluntários? Que pena! Parecia tão bonito...” O sorriso murcha como se nosso trabalho só valesse se voluntário. Afinal: por que não podemos ser remunerados pelo que fazemos de melhor? Por que alguém que tem como ofício o teatro, que vive se aprimorando e que “topa” interagir com poucas pessoas num quarto perde o encanto quando se declara profissional e remunerado?
Se levarmos o melhor de nossa arte, se afiamos habilidades para deixar o trabalho sempre vivo, se temos compromisso e não vamos só quando temos um tempinho... isso não é bom?
Enquanto isso, no mundo da educação formal, a maioria das escolas prepara o jovem para um mercado saturado de profissões convencionais. Remotamente despertam vocações essenciais, particulares. É verdade que algumas propiciam vivências de cunho social, mas que não levam as escolhas inéditas, potentes. Na hora agá segue-se os trilhos e tudo não terá passado de boa-vontade. Na outra ponta, vemos profissionais numa roda-viva insana, improdutivos, infelizes com suas escolhas e precisando “fazer algo que dê sentido a suas vidas”.
Resumo: o jovem tem oportunidades de identificar sua vocação, seu desejo, mas, pressionado (santo vestibular, Batman!), opta por uma profissão convencional, e lá na frente se descobre insatisfeito. Alheios a isso, o sistema educacional e pais pouco observadores continuam a negar o desejo como estopim da verdadeira realização e seguem “tocando” o jovem por um caminho de insatisfação e desemprego (santo negócio, Robin!). E áreas cruciais que carecem de especial atenção, de profissionais inteiros em suas escolhas, continuam à mercê de ações esporádicas.
Pois é: nós, atores e palhaços, estamos felizes com nossa escolha profissional, alimentados por uma atividade que responde a nossos desejos e nos aprimora como cidadãos e artistas. Em vez da roda-viva, uma ciranda - que reverbera ações.